O nome Augusto Poiares diz-te alguma coisa?

Confesso que nunca soube o que pensam de nós os textos que escrevemos. Sobretudo quando eles nascem ao deambular do pensamento, porque um dia, alguém vos atira para o ar uma frase tão inesperada como o facto de ter nascido.

Desta vez foi a Aninhas. Só ela é que é rapariga para, como quem não quer a coisa e com aquele ar de quem acredita que a primavera tem asas, nos atirar para o ar uma frase do género: « Olá Armando! O nome Augusto Poiares (Casapiano que nem tu) diz-te alguma coisa? », à qual só lhe podia responder, com um lacónico e óbvio : « Sim. Claro que sim« , juntando ao pensamento, em jeito de pé de página: « esta miúda tem cada uma… »

Depois é claro, cai o pano do silêncio e a coisa fica cá dentro. A brincar com o nosso íntimo. Juntamente com aquelas coisas que a gente passa a vida a guardar numa gaveta que julgamos só nossa e onde de quando em vez, quando os dias nos pesam, vamos vasculhar. As páginas da nossa infância estão ali guardadas. Como um segredo. Um íntimo tesouro de palavras, de silêncios, lágrimas, solidão, irmandade e tantos outros sentimentos, desenhados como uma fina linha branca no céu azulado das nossas raízes. Uma gaveta que é só nossa. E daqueles que sabemos que também eles têm uma gaveta secreta. Parecida com a nossa. Onde eles vão vasculhar. De vez em quando.

Francamente, raios partam esta miúda. Perguntar a um ganso como eu, se nome de Augusto Poiares me diz alguma coisa é como se alguém perguntasse a um lisboeta se sabe o que é o rio Tejo.

E isto apesar de eu pertencer a uma quantas gerações mais tardias. Sim, porque o Augusto Poiares ainda teve o claustro do Mosteiro dos Jerónimos como pátio de recreio. Eu não.

E foi aí, estou convicto, que lhe nasceu aquela alma de homem tão grande na sua universalidade de casapiano de fina linhagem, que faz com que eu sinta nascer um sorriso emocionado nos meus lábios à simples evocação do seu nome.

Será pouco dizer que ele é um importante ponto de referência na bússola das nossas vidas de filhos da Universidade Plebeia, como um dia assim lhe chamou Latino Coelho.

Sabes Aninhas, o Augusto Poiares é um daqueles nomes que nos dá uma furiosa vontade de levantar o dedo e de gritar, com um ar patetinha, cheio de emoção: « eu também sou casapiano!… eu também sou casapiano!…. ».

Sim, porque é uma perversão do espírito dizer-se « eu fui casapiano! ». É-se. Ponto. Para sempre. E com muito orgulho.

alr @ 2013